sexta-feira, 29 de julho de 2011

Por acidente

Ontem, podia ter morrido. Ou ficado gravemente ferido. Ao volante, arranco ao sinal verde do semáforo, num cruzamento. Travo de súbito. À minha esquerda, surge um monovolume, em velocidade acima do recomendável e sem sintomas de querer abrandar. O sinal vermelho não estava a deter quem conduzia. Assim foi. Passou à minha frente, na mesma marcha livre. Uma condutora conversando ao telemóvel. Sorridente. E lá foi ela. O sangue desceu-me. Tudo isto em fracções de segundos. Por acidente, a vida pode mudar. Ela muda, todos os dias.

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ou 8 ou 80

Bipolaridade//: o transtorno bipolar ou distúrbio bipolar é uma forma de transtornos de humor caracterizado pela variação extrema do humor entre uma fase maníaca ou hipomaníaca, que são estágios diferentes pela gradação dos seus sintomas, hiperatividade física e mental, e uma fase de depressão, inibição, lentidão para conceber e realizar ideias.(...) (in Wikipedia.com)

A forma como a matança perpetrada pelo norueguês Anders Behring Breivik foi acompanhada pelos media nacionais revelou-se pouco menos que embaraçante. Dando provas de um autismo a toda prova, durante o dia em que este indivíduo levou a cabo as suas acções assassinas nas ruas de Oslo e na ilha de Utoya, as televisões e os jornais online portugueses menosprezaram a importância dos ataques e tardaram em perceber a sua dimensão real e simbólica. Enquanto os canais noticiosos internacionais montavam um autêntico pipeline informativo, as cadeias do nosso país entretinham-se a falar de outras coisas que, ante "a estória", perdiam toda a pertinência ou, pelo menos, viam-na grandemente esvaziada. O mesmo se passou com as edições digitais dos jornais, que demonstraram estar pouco ginasticadas para responder com rapidez ao apelo informativo do momento. Três dias depois, o pivô do jornal da hora de almoço da SIC abria o bloco informativo falando do "monstro norueguês". É caso para nos perguntarmos onde ficam a isenção e a objectividade exigidas a todos os jornalistas - não lhes compete fazer tais juízos num bloco noticioso. Como sempre, entre nós, o jornalismo sai maltratado por quem o devia exercitar com a destreza que o seu estatuto público exige.

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

De barriga cheia, a lamuriar-se

Muito sem dito sobre o que, alegadamente, pouco se tem, esquecendo-se o muito que, de facto, se tem e que poucos dizem. São ingratas as gentes ocidentais, nos dias que correm. Nisso, os portugueses estão bem a par dos outros povos do mesmo hemisfério sócio-político.

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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quem vê caras

Numa época em que, à laia das ditas "redes sociais", o sorriso congelado em fotos de apresentação - seguido de perto por variantes de pose afectada - funciona como porta de entrada no universo de muita gente, acaba por não espantar que o consumo de antidepressivos esteja em alta. Afinal, nunca suspeitaremos do que riem essas pessoas.

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terça-feira, 12 de julho de 2011

Sinais no horizonte

Há uma casa a arder na pradaria. Lá ao fundo, na planície, um ponto consome-se em combustão lenta, como a cabeça de um fósforo no exacto momento a seguir a uma ignição, em replay. Dele, desprendem-se em volteios farripos de fumo negro. O coração bate-nos, cada vez com mais força, ao aproximar. Há uma casa a arder na pradaria. Está cada vez mais próxima. Mas as ondas de calor e o fumo que a envolvem dificultam o claro perceber do seus contornos. Há uma casa a arder na pradaria.

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De volta

Regressar a um lugar onde se ensaiaram hipóteses de felicidade. Depois de pouco mais de ano e meio de silêncio, dá-se o dito pelo não dito e pega-se no que havia ficado. O vazio das palavras não escritas também faz parte de uma narrativa, como a ausência de um corpo pode ser algo de palpável. Fazê-lo no início de uma época tida como de interregno, de balanço, adquire um doce tom irónico.  

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