segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Palavras gastas

Estão gastas. Exaustas. Velhas como os tempos. Mas o uso que os jornalistas delas fazem retira-lhes a vitalidade que, ainda assim, ostentam. As palavras levam pancada, é o seu destino, a sua função - pelo menos, uma delas. Não estão é preparadas para o (mau) tratamento a que são sujeitas no quotidiano cansado e desinspirado das televisões e das rádios, sobretudo. Chega a ser fascinante a forma persistente como os erros, a banalidade e os lugares comuns da língua portuguesa são usados e reutilizados. 

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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Hipótese de cartografia de um país

Uma História de Portugal poderia bem ter como título História do Desperdício e das Oportunidades Perdidas. Pelo menos, desde há dois séculos, tem sido esse o programa.

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Truffaut, in memoriam

Se fosse vivo, François Truffaut faria hoje 80 anos. O cineasta francês, falecido em 1984, foi um dos inventores da Nouvelle Vague, não só através dos filmes que realizou - como Os 400 Golpes (1959), Jules & Jim (1962) ou A Noite Americana (1973) - como, ainda antes disso, também do seu trabalho como teorizador. Juntamente com André Bazin, em relação ao qual funcionou como uma figura filial e com quem forjou uma forte relação pessoal, intelectual e profissional, Truffaut esteve no centro da revolução que varreria do mapa as concepções do cinema como as conhecêramos até então e que teve na revista Cahiers du Cinema a sua plataforma. Nascia a crítica contemporânea de cinema, resultado último da evolução de uma consciência aguda de cinefilia. O francês conheceu uma ascensão a que, por facilidade de discurso, poderemos considerar meteórica e, em pouco tempo, conseguiu imprimir a sua marca, caracterizada por uma visão eminentemente sensorial e sensual da sétima arte. Divide opiniões, como é óbvio, mas conseguiu o pequeno milagre de operar a construção de uma apaixonada visão própria, feita sobre a reconstrução do material alheio. Olhando agora a sua resenha biográfica, não deixa de impressionar a maturidade com que, desde muito cedo, conseguiu esse feito. Aos 22 anos, escreveu uma crítica demolidora,"Une Certaine Tendance du Cinéma Français", que viria a ficar célebre e abriria portas para o que aí vinha. É ao seu entusiasmo que podemos recorrer, uma e outra vez, para encontrar novas pistas e motivações, a partir do imenso continente cinematográfico. Com este, manteremos sempre um diálogo apaixonado e pleno de contradições. Como as personagens de "As duas inglesas e o continente" (1971).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Respirar

Mais uma greve dos transportes públicos. Mais conversa sobre a crise, os prejuízos desta e daquela empresa. Mais notícias sobre como a austeridade penaliza a grande maioria dos portugueses. Mais rumores de que ainda vêm aí mais medidas de aperto. Por vezes, sabe bem desligar disto tudo e rir com pequenas coisas do dia-a-dia.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Tempos assustadores III

Ainda a propósito da anunciada revista Salazar, importa denunciar o mecanismo associado à provocação (demasiado evidente). Pensaram os autores da mesma, e com razão, que facilmente atrairiam a atenção. Conseguiram-no. Melhor que isso, sabiam que a bravata promocional dividiria de forma clara as pessoas entre as que condenariam o baptismo de forma incondicional e todos os outros - sejam eles salazaristas ou não, achem eles piada ao caso ou apenas indiferença. O que se pretende com este nome é fazer troça da indignação dos que se dão ao trabalho de a exprimir, criando uma armadilha que opera segundo o princípio  elementar de que se alguém contesta o nome Salazar, então estará a demonstrar intolerância e a deixar cair a máscara, revelando um censor em potência - ao jeito, nem mais nem menos, de um agente do regime tutelado pela figura em causa.  Esta forma de pensar releva da mais básica e simplista forma de olhar o mundo, recusando-se a pensar nos mecanismos e nas consequências associadas ao manuseamento de certas peças de linguagem, de certas palavras, de certas imagens. Um nojo, reitero.

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