sábado, 13 de setembro de 2008

"Mandonna"

Na véspera do concerto da mega-estrela da POP Madonna em Lisboa, importa reflectir, nem que seja brevemente, sobre o real significado da sua preponderância mediática - mais e mais amplificada, a cada nova acção por ela promovida. Se, musicalmente, é claro e estabelecido o consenso entre os ouvidos mais atentos de que a cantante dificilmente passará do nível venal - com os arremedos de pretensa transfiguração "vanguardista" a tomarem a dianteira nos últimos anos -, deve-se perguntar o porquê de tanto barulho à volta da sua personagem. É disso mesmo que se trata, porque Madonna soube, como poucos, criar uma personagem dentro do universo musical em que se movimenta, o qual vive, precisamente, desse constante jogo de máscaras. Até aí, nada de mal, são as regras do jogo. O "problema", dizemos nós, começa a partir do momento em que, consciente desse poder encenatório, a estrela norte-americana se assume como oráculo moralista, introduzindo gradualmente "sound-bytes" instigatórios do mais básico elementarismo na análise das questões a que ela pretende aludir. Ao contrário dos princípios da "obra aberta" que deve ser cada acto de criação, Madonna apela aos que nela crêem cegamente a partilharem e amplificarem, se possível, essa verve axiomática. Nada contra a veiculação da mensagem política no contexto da expressão artística. Afinal, na forma mais elementar, arriscamos dizer que tal se revela impossível, dada a natureza política da própria existência humana. O que está em causa é essa falta de cuidado na utilização de uma linguagem assaz complexa e poderosa como é a comunicação de massas. Na tournée em curso, a "Sticky & Sweet", a artista faz-se acompanhar do seu sofisticado aparelho de encenação, como é hábito, dando largas a essa pulsão que aqui entendemos como manipulatória. Exemplo extremo: durante a sua actuação, ecãs vídeo gigantes fazem passar na retaguarda, de um lado, imagens de Ghandi, Martin Luther King e Barack Obama, candidato democrata à casa Branca, personificando o "lado bom"; do outro lado, "o mau", associam-se imagens de John McCain, candidato republicano, às de Adolf Hitler. Que dizer perante tal reducionismo de análise? Também prefiro Obama, mas chegar a um ponto em que alguém se permite fazer algo como isto, deixa-nos, no mínimo, com dúvidas se ela saberá os rudimentos da História do século XX. E ela, a "Mandonna", manda. Mais do que nunca.

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