quinta-feira, 7 de maio de 2009

Angola, Angola, Angola

A composição impõe o seu grunhir metálico em ascensão lá do fundo do túnel. Ao abrirem-se as portas, algures na linha verde ao fim da noite de uma sexta-feira em direcção à baixa, franqueia-se uma carruagem do metro indistinta das restantes. Três homens africanos ocupam largamente os bancos que se dispõem frente-a-frente, dois de um lado do corredor, um no outro, sem ninguém à sua frente. Falam português com sotaque cerrado de alguma lusofonia com quotidiano assente na periferia, e exalam um forte aroma a álcool. "O Scolari vai treinar Angola!! O Scolari vai treinar Angola!", grita um, olhando para os rostos pálidos de emoções dos portugueses que acabam de penetrar neste cartuxo de alumínio sobre rodas. "Pois vai!", assente o que está em frente a ele, com sorriso trocista e olhos postos num dos tugas, como que se certificando que ele escuta a conversa. "Temos muito dinheiro, Angola é rica!! Já viram isto, o Scolari vai lá estar, um dos melhores treinadores do mundo, já foi campeão com o Brasil, vai treinar Angola!". Risadas. "Os portugueses não tiveram dinheiro para o aguentar". "A Sonangol tem muita massa, muita mesmo!". "Nós é que estamos a sustentar este país", monologam agora dois deles, de roupas surradas, voltados para a potencial plateia deste diálogo. O outro, o terceiro, de cabeça inclinada para o tecto da carruagem, como se buscasse inspiração divina, e com uma das mãos a acariciar o pescoço, sorri muito discretamente. Nem parece fazer parte do grupo. Próxima estação: a que vier.   

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