quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Zé Povinho e o Magalhães

As dificuldades financeiras por que passa a fábrica de faianças Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, com a empresa a ter de mendigar ao Estado os montantes necessários para liquidar salários, são apenas mais um episódio da depressão económica. Mas ganham um especial simbolismo pelo carácter icónico da unidade. Nem mais, o Zé Povinho em dificuldades. É impossível encontrar metáfora mais óbvia - talvez, e apenas, se ocorresse uma coisa igual a uma hipotética grande unidade de produção de galos de Barcelos - para a situação nacional. Uma imagem do país que se esvai, incapaz, tal como na época em que Bordalo a criou, de preparar a casa para os momentos de turbulência. Mesmo que o Governo insista em apontar o computador Magalhães, montado em Vila do Conde com material chinês - outra metáfora do nosso incerto presente -, como a nossa nova mascote, persiste a ideia de que a figura hirsuta de punho fechado em sinal de recusa permanece como o nosso maior emblema. O Magalhães, materialização possível do sonho de uma lusa pátria "moderna" e estrangeirada como sempre desejaram os homens que gerem a coisa pública e que tarda em surgir, bem se esforça para se impôr. Mas, desconfiamos, dentro de um século ninguém dele se lembrará. Ao contrário do Zé Povinho. É a vida.

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