quinta-feira, 25 de maio de 2006

V para violência


Violência s.f. Qualidade ou carácter do que é violento. / Acção violenta: cometer violências. / Acto ou efeito de violentar. /Opressão, tirania. / Constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém.

A banalidade com que os alinhamentos televisivos se comprazem acaba por, à força de rotina, normalizar os próprios conteúdos dos espaços informativos, sem que isso escandalize alguém. Pelo menos, alguém cujos sinais desse eventual descontentamento se evidenciem para além de um repetir sem convicção que "as coisas não estão bem" e de um resignado reconhecimento de que o prórprio jornalismo anda pelas ruas da amargura. Veja-se a forma como certos "mecanismos", outrora exemplares de torpeza moral, acabam por se instalar no quotidiano dos jornais televisivos, levando a que, por exemplo, a graçola fácil seja hoje parte instituída desses espaços. Ainda esta semana, disso tivemos um exemplo, exuberante para os olhos e ouvidos ainda atentos, mas talvez apenas um pormenor para alguns, quiçá a maioria. No Jonal da Noite, da SIC, o jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho anunciou uma dessas peças de fait divers que não são mais que irrelevância em movimento: um orador de um congresso médico, de dentistas salvo erro, na República Checa, interrompe o que dizia para agredir um dos membros da mesa da cimeira, por razões aparentemente pessoais. Algo insólito, sem dúvida. Terminada a peça, sorriso ao canto da boca, o pivot, nitidamente divertido, anuncia: "Uma cena que, esperamos nós, não se venha a repetir no Rock in Rio Lisboa. A não ser que faltem bilhetes. Não é assim?", indaga agora junto do seu colega, já em directo do recinto do tal festival. Ou seja, aproveita-se para fazer a passagem para outro tema, numa ligação mais que forçada. Tal recurso, infelizmente, funciona, como dissemos, de forma mecânica, há anos. No meio de tudo isto, o mais grave, porém, é a mensagem implícita. A saber: actos de violência são coisa de somenos, até algo divertidos, e que, porventura, até se justificam, caso não se consiga alcançar determinado objectivo mais ou menos materialista. Estas coisas passam em horário nobre, num espaço supostamente informativo. Depois venham fazer reportagens lacrimejantes sobre o estado da Sociedade.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial