sexta-feira, 27 de junho de 2008

Portishead "Third"

Comentário pulicado no blog http://osaldalingua.wordpress.com a propóito da "má nota" dada ao novo álbum dos Portishead. Uma ideia que vem sendo espalhada por muito boa gente.

Boa tarde. Antes de mais, deixe-me dar-lhe os parabéns por este sítio. Parece-me atento e despretensioso. É sempre bom saber que há gente interessada no que de bom se vai fazendo a nível musical.Por isso, deixa-me algo perplexo a apreciação que faz do álbum dos Portishead, o qual considero um dos grandes discos saídos este ano. Um registo notável, capaz de ocultar a beleza na mais cifrada estratégia de linguagem - pelo menos no que ao cânone pop diz respeito. Talvez o problema seja esse mesmo. Os equívocos em relação ao que são os Portishead e aquilo a que demandam derivarão, em grande medida, das enormes expectativas emanadas de um circuito dito “indie” a que eles, na boa verdade, quase nunca ligaram. Lembre-se o carácter heterodoxo da proposta de Geoff Barrows, Adrien Utley e Beth Gibbons, ao tempo do lançamento de “Dummy”, no longínquo Verão de 1994. Eles surgiram com uma linguagem própria, bem diferente da sopa “alternativa” proposta naquela altura. Mas o tempo faz mover as coisas. O que hoje é estranho, pode muito bem ser familiar amanhã. Sempre assim foi. Não espanta pois o horror e a frustração de toda uma clientela ao deparar-se com o torpedear das suas expectativas. Percebeu-se isso no concerto de Lisboa - que foi fantástico, se descontarmos a histeria colectiva tão presente e em voga entre nós. “Third” é um álbum em busca da diferença, nada preocupado em agradar a estudos de mercado. O facto de a digressão ter sido cancelada, como diz, até me dá um certo gozo. Fico como um dos privilegiados que pôde assistir à apresentação de um disco que, não tenho dúvidas, a História da Pop colocará no seu panteão.

Etiquetas:

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Outra naúsea

Ainda sobre o signo do futebol - desporto que tanto aprecio enquanto adepto -, é impossível não ligar esta onda nacionalista ao frenesim em que se tornaram as transferências de Mourinho para o Inter de Milão e de Cristiano Ronaldo, a esta altura ainda apenas hipotética, para o Real Madrid. A dimensão das verbas envolvidas só adensa o que há muito se observa: uma desproporção gritante e despudorada entre o que a sociedade do espectáculo vai criando e as reais necessidades de um mundo mais justo.

domingo, 1 de junho de 2008

Uma náusea

Já se sente no ar toda aquela pestilência em volta da selecção e da treta da bandeira nacional. Um histrionismo avassalador assolou a "nação", revelando aquilo de que somos feitos enquanto povo. Um zapping pelos principais noticiários televisivos nacionais ajuda a traçar o retrato. Estamos a viver um tempo de totalitarismo, sim. Não tenhamos medo das palavras. É disso que se trata. Um mundo de factos e acontecimentos agita o Mundo, mas por cá prefere-se inundar o espectro com os mínimos gestos dos atletas que envergarão as cores portuguesas no Euro 2008. A acefalia propagandística paralisa-nos. Enquanto isso, tudo o resto fica por discutir.