quarta-feira, 31 de maio de 2006

Frei Tomás

Coerência s.f. Ligação, conexão, de um conjunto de ideias ou de factos, formando um todo lógico.


O Expresso tem um suplemento, em formato reduzido, com sugestões de lazer para a semana. Chama-se Cartaz.pt e, a cada edição, convida uma pessoa-celebridade a contar ou a sugerir as suas escolhas, ao nível da cultura e do ócio, para melhor passar um ciclo de sete dias. Esta semana, calhou a sorte a Ana Drago, a deputada do Bloco de Esquerda e socióloga que antes se deu a conhecer num programa de debate no Canal 2. Entre outros predicados, a senhora parece ser, o que não é surpresa vindo de quem vem, uma dedicada apóstola do politicamente correcto. Ora, é com enorme surpresa, para não dizer pasmo, que se lê nas duas paginolas do Cartaz.pt que a eleita bloquista faz uso intensivo e despudorado do automóvel nas suas deslocações dentro da cidade de Lisboa. Confessa-o alegremente, dizendo que vai daqui para acolá, várias vezes ao dia, ora para ver uma exposição, ora para se deslocar a Belém para passear de patins em linha. Porventura, estaremos enganados se pensamos que as questões de mobilidade, da poluição atmosférica e da qualidade de vida nas cidades são parte relevante da agenda política do Bloco. Talvez uma falta de cuidado.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Oco?


Há faltas de cuidado com muita piada. Veja-se a da APEL, ao anunciar, no seu sítio da Feira do Livro de Lisboa, o livro do dia nos pavilhões do Instituto Piaget.

Título: Semiótica e Filosofia da Linguagem
Autor(es): Umberto Oco
Stand: Pavilhões 142 e 143
Editor: Instituto Piaget

Verifique: http://feiradolivrodelisboa.apel.pt/

Não deixa de ser irónico, para um homem que de "oco" não tem nada.

domingo, 28 de maio de 2006

Deus, esse esquilo...perdão, esse esquivo

Deus s. m. Ente infinito e existente por si mesmo; a causa necessária e fim último de tudo que existe. / Em teologia cristã, ente tríplice e uno, infinitamente perfeito, criador e regulador do universo. [...]

De acordo com a edição on-line do PÚBLICO, o Papa Bento XVI, Ratzinger de apelido, em visita oficial à Polónia, terá lançado hoje uma interrogação, assaz pertinente. Perante as marcas do Holocausto, patentes no que resta do campo de concentração de Auschwitz, questionou onde estaria Deus, quando ali morreram cerca de 1,4 milhões de judeus, durante a vigência do nazismo. Há aqui um problema semântico, ou é só impressão?

sexta-feira, 26 de maio de 2006

O pífio como arte, sempre a facturar

Banal adj. Sem originalidade: elogios banais. / Comum, trivial, vulgar, chato. / Dizia-se antigamente de certas coisas pertencentes a um senhor feudal e de que se serviam os seus vassalos, pagando um foro como retribuição: um moinho banal.

Por menos óbvia, confessamos que preferímos a última acepção da palavra. Isto porque tem muito daquilo que é hoje, apesar da maquilhagem mediático-ideológica de sinal contrário, a sociedade, nos seus constantes jogos de celebração de uma ideia de "festa". O Rock in Rio poderá muito bem ser disso paradigma. Espectáculo de uma mediocridade a toda a prova, émulo pobre e desfasado de jubilação de um tempo e de uma ideia de "rock" há muito cristalizados como religião, o circo montado no Parque da Bela Vista espanta apenas pela capacidade que ainda tem de mobilização. Sabemos como o portuguezinho se entusiasma facilmente. Isso, no entanto, está longe de servir como justificação plena. Verdade seja dita que, nisto, muita da culpa pode ser assacada à comunicação social. Embarcou na euforia do Rock in Rio, sem que se perceba muito bem porquê. Ou melhor, até se percebe, trata-se de ir atrás do que o povo gosta. O difícil está em entender, mesmo sabendo dos interesses comerciais em jogo através de patrocínios, o porquê da contaminação de espaços supostamente de excelência. Ontem à noite, na SIC Notícias, o sempre pomposo Mário Crespo disso se encarregou. Ele, que passa o tempo todo com salamaleques sobre a "qualidade" e a "excelência" do jornalismo da casa. Depois de um directo da Feira do Livro, o que lhe ocorre dizer, imagine-se: "E que excelente ideia, essa, a de passar pela feira e, porque não?, ir com um bom livro, debaixo do braço, até ao Rock in Rio, ouvir boa música"....AArrrrgghhhh
Que náusea.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

V para violência


Violência s.f. Qualidade ou carácter do que é violento. / Acção violenta: cometer violências. / Acto ou efeito de violentar. /Opressão, tirania. / Constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém.

A banalidade com que os alinhamentos televisivos se comprazem acaba por, à força de rotina, normalizar os próprios conteúdos dos espaços informativos, sem que isso escandalize alguém. Pelo menos, alguém cujos sinais desse eventual descontentamento se evidenciem para além de um repetir sem convicção que "as coisas não estão bem" e de um resignado reconhecimento de que o prórprio jornalismo anda pelas ruas da amargura. Veja-se a forma como certos "mecanismos", outrora exemplares de torpeza moral, acabam por se instalar no quotidiano dos jornais televisivos, levando a que, por exemplo, a graçola fácil seja hoje parte instituída desses espaços. Ainda esta semana, disso tivemos um exemplo, exuberante para os olhos e ouvidos ainda atentos, mas talvez apenas um pormenor para alguns, quiçá a maioria. No Jonal da Noite, da SIC, o jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho anunciou uma dessas peças de fait divers que não são mais que irrelevância em movimento: um orador de um congresso médico, de dentistas salvo erro, na República Checa, interrompe o que dizia para agredir um dos membros da mesa da cimeira, por razões aparentemente pessoais. Algo insólito, sem dúvida. Terminada a peça, sorriso ao canto da boca, o pivot, nitidamente divertido, anuncia: "Uma cena que, esperamos nós, não se venha a repetir no Rock in Rio Lisboa. A não ser que faltem bilhetes. Não é assim?", indaga agora junto do seu colega, já em directo do recinto do tal festival. Ou seja, aproveita-se para fazer a passagem para outro tema, numa ligação mais que forçada. Tal recurso, infelizmente, funciona, como dissemos, de forma mecânica, há anos. No meio de tudo isto, o mais grave, porém, é a mensagem implícita. A saber: actos de violência são coisa de somenos, até algo divertidos, e que, porventura, até se justificam, caso não se consiga alcançar determinado objectivo mais ou menos materialista. Estas coisas passam em horário nobre, num espaço supostamente informativo. Depois venham fazer reportagens lacrimejantes sobre o estado da Sociedade.