sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Denunciar a barbárie


Podemos até nem gostar do seu alinhamento ideológico, podemos pôr em causa as questões políticas internas do seu país, mas desta fez o que um político deve fazer. Chama-se Recep Tayyip Erdogan, é o primeiro-ministro da Turquia, e merece todo o nosso aplauso pela forma corajosa e frontal como confrontou os presentes na conferência de Davos, na Suíça, com o branqueamento actual relativamente ao massacre realizado por Israel na Faixa de Gaza. Não tem que ver com solidariedade muçulmana, como muitos pensam. Tem que ver com direitos humanos. Como não lhe ligaram nenhuma, abandonou a sala. Simples, justo e eficaz.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cortar o mal pela raiz

O Ministério da Justiça decidiu resolver o problema do roubo e arrombamento frequente de caixas multibanco colocadas no interior dos tribunais portugueses. Absurdamente, existiam aí uns ingénuos que pensavam que a questão se resolveria com uma certa facilidade, uma vez que este é um dos ministérios - juntamente com o da Administração Interna - responsáveis pelo zelo da tranquilidade dos cidadãos. Nada mais fácil, pensaram eles, reforçam-se as medidas de segurança dessas instalações. Enganaram-se. A tutela decidiu retirar os multibancos de dentro dos edifícios, erradicando o problema. Acabam-se, assim, os roubos destes equipamentos em tribunais, porque, simplesmente, eles deixaram de ali existir. Como é que ninguém se tinha lembrado de tão providencial medida? Adivinham-se já as próximas medidas, quando o Verão espreitar e com ele algumas das costumeiras fatalidades: todas as florestas serão desbastadas, a fim de evitar os incontroláveis incêndios, e as praias encerradas aos banhos públicos, prevenindo trágicos afogamentos. 

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O peso da História

Alguém me dizia, este fim-de-semana, a propósito da forma como escreve Vasco Pulido Valente e de como discordava dele, que o seu grande problema era justificar tudo com a História. Repito o que lhe disse, em resposta: a História não explica tudo, mas explica quase tudo. Subtraiam a "História" por este "quase" e vejam o que sobra. Um quase nada.

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domingo, 25 de janeiro de 2009

Outlet da especulação

Está claro que o adensar de suspeitas em volta do "caso Freeport", com todos os dados aparentemente novos que se vão dando a conhecer e as zonas de sombra e silêncio que sobre eles gravitam, ajuda a pintar um cenário nada bom de se ver. E, tal como no outro caso - o da Casa Pia - que verdadeiramente ameaçou, em tempos recentes, a estabilidade da presente República, está aberto o jogo da especulação e do boato. Quanto mais tempo demorarem os principais implicados na presente conjuntura a esclarecerem o que realmente se passou e não o que acham que é mais conveniente que se diga, melhor para todos. Do que Portugal menos precisava neste momento era de um outlet de trapos transformado num outlet de calúnias, suspeições ou de duras revelações que todos tememos que venham a ser verdade.

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Zé Povinho e o Magalhães

As dificuldades financeiras por que passa a fábrica de faianças Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, com a empresa a ter de mendigar ao Estado os montantes necessários para liquidar salários, são apenas mais um episódio da depressão económica. Mas ganham um especial simbolismo pelo carácter icónico da unidade. Nem mais, o Zé Povinho em dificuldades. É impossível encontrar metáfora mais óbvia - talvez, e apenas, se ocorresse uma coisa igual a uma hipotética grande unidade de produção de galos de Barcelos - para a situação nacional. Uma imagem do país que se esvai, incapaz, tal como na época em que Bordalo a criou, de preparar a casa para os momentos de turbulência. Mesmo que o Governo insista em apontar o computador Magalhães, montado em Vila do Conde com material chinês - outra metáfora do nosso incerto presente -, como a nossa nova mascote, persiste a ideia de que a figura hirsuta de punho fechado em sinal de recusa permanece como o nosso maior emblema. O Magalhães, materialização possível do sonho de uma lusa pátria "moderna" e estrangeirada como sempre desejaram os homens que gerem a coisa pública e que tarda em surgir, bem se esforça para se impôr. Mas, desconfiamos, dentro de um século ninguém dele se lembrará. Ao contrário do Zé Povinho. É a vida.

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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O valor da Liberdade (em tempos de crise)

Sabem qual é a diferença entre um revolucionário e um reaccionário? É que este morre sozinho, deprimido, aturdido pelo medo de morrer como aquele, que sucumbiu vítima do seu excesso de entusiasmo e pagando pelos atentados que causou às vidas alheias. *

*A propósito daqueles que, perante a crise, têm saudades de outros tempos, outros métodos, outras tragédias.

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Apesar da esperança

Mesmo com toda a carga simbólica que a chegada de Obama inevitavelmente convoca, serão difíceis os tempos que se avizinham. Mas isso já não constitui novidade. O que continua a espantar é a dimensão da hecatombe económica e financeira em curso. Não lhe conseguimos vislumbrar o fundo. É nesta altura que devemos pensar em todas aquelas lérias que nos venderam de dar mais liberdade aos homens dos negócios e aliviar a presença do Estado. Tão irrealista como os clamores utópicos do Maio de 68 de uma sociedade sem polícias. Conclusão: desconfiem sempre de sentimentalismos na governança. 

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As devidas diferenças

Mesmo sendo mais evidentes do que uma parede, as diferenças entre os Estados Unidos da América e a Rússia nunca serão suficientes para que o reumático da brigada desvaneça. No mesmo dia em que parte significativa do Mundo olha para Washington em busca dos primeiros indícios de uma eventual mudança, más novas sopram de Moscovo. Como de costume. Foi ontem assassinado a tiro, em plena capital russa, o advogado Stanislav Markelov, defensor da família de uma mulher chechena de 18 anos morta por um ex-coronel do exército nacional. 
Lê-se no jornal Global que "Markelov foi atacado e abatido logo depois de ter dado uma conferência de imprensa para denunciar a libertação antecipada do ex-coronel do exército russo Iuri Budanov, o autor da morte da jovem chechena Elza Kungayeva, 18 anos, em Março de 2000. A jornalista estagiária Anastasia Baburova, que estava no local do crime de Merkelov e o tentou socorrer, foi atingida e levada ferida para o hospital, não havendo notícias do seu estado de saúde. Merkelov foi advogado da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada por denunciar atrocidades perpetradas por militares russos na Chechénia"
Agora que acabo de transcrever estas linhas, só me ocorrem as declarações de um pobre desgraçado português, ouvido pela televisão num inquérito de rua, aquando da última visita de Putin ao nosso país. Homem de recursos modestos, ar desgastado por uma má vida de trabalho, dizia ele que admirava o presidente do gigante euroasiático porque estaria a "pôr os americanos na ordem". A pobreza de espírito é algo universal e chega a ser comovente. Respeitemo-la, pelos estragos que pode causar.

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ironias da História

"Quando o meu pai era jovem, na Lituânia, a sua família teve a sorte de a terem empurado de lá, e, após várias vicissitudes, chegaram à Palestina britância de princípios dos anos 30. Mas naquela época toda a Europa tinha paredes cobertas com a inscrição: JUDEUS PARA A PALESTINA! Quando de novo viajaram até à Europa, muitíssimas décadas depois, encontraram-nas cobertas com a inscrição: JUDEUS, FORA DA PALESTINA!" 

Amos Oz, Contra o fanatismo

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Aviso à navegação

Está tudo escandalizado porque o cardial-patriarca disse que as portuguesas deveriam ter cuidado e pensar duas vezes antes de avançarem para o casamento com um muçulmano. Nada contra. Aliás, acho que o aviso do clérigo apenas pecou por deficitário. De uma grande modéstia, este senhor. Esqueceu-se de incluir os casamentos com cristãos, judeus, budistas, hindus e todas as outras religiões e, note-se, de avisar também os homens. Bem vistas as coisas, e mais grave, olvidou-se igualmente de prevenir as pessoas em geral para os perigos do casamento. Mas já é um princípio. Isso é.

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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

No país dos pedidos

Lê-se nos jornais de hoje que os operadores da futura Televisão Digital Terrestre (TDT) "pedem incentivos ao Governo". Ainda a semana passada, ocorrera coisa semelhante com a associação que congrega as agências publicitárias. Quando a crise aperta, somos ainda mais portugueses. De mão estendida, inevitavelmente.  

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Muita fachada, pouca música, alguma poesia


É tema recorrente. Mais do que a edição discográfica regular per si, a discussão por ela motivada sobre novos valores da chamada "música portuguesa", a cada saída do anonimato de algum aspirante, leva-nos a especular se será desta vez. Isso. O problema começa logo aí, como se fosse necessário algum episódio iniciático, epifania fundadora de uma qualquer mitologia urbana. A música popular, ou pop, se se quiser, vive disso. Também. Mas não só. Ou não o deveria, dizemos. Porque, afinal, trata-se apenas de música. Ou não? Talvez aqui radique parte essencial do que, a meu ver, se constitui como o problema. Estamos a falar de música - mesmo que na sua versão mais acessível. Por que suposta ordem de razões tal deve ser desvalorizado, é algo que se desconhece. Mais concreto, existe uma ideia amplamente disseminada entre os portugueses - e, mais preocupante, entre alguns dos membros da sua comunidade musical - de que um cantor ou agrupamento, seja ele um cantautor ou banda, se credibiliza quanto mais nobres forem as suas palavras. As letras, ouve-se amiúde, são o importante naquele álbum de cicrano, que respeita muito a forma como beltrano trata a nossa língua. Apenas os mais distraídos teriam dificuldade em encontrar artistas entregues à mais elevada tarefa de cantar os mais belos motes e sonetos do nosso livro comum. Uma missão patriótica. Fazem-no na mais pura devoção, não se duvide. E, no meio de tudo isto, onde fica a música? Sim, sim, é muito importante, garante-se. Diz-se sempre que ela tem de ser da mais refinada qualidade para acompanhar as pristinas líricas. Não vá o ouvinte recusá-las por manifesta disseminação de alguma ferrugem no cromado polido com tanta dedicação. Isto é coisa séria, claro. Mais ainda num país de poetas. Eles cantam a poesia, são sensíveis, e nessa matéria o que conta é a textualidade. Para quê complicar com sentido de narrativa sonora- e toda as suas componentes harmónicas, melódicas e rítmicas - e conseguinte valor de produção. Confesso ainda não ter ouvido em disco nenhum dos elementos da tão celebrada, no final do ano que findou, galáxia Flor Caveira - estrutura editorial que, garantem alguns dos escribas e críticos que mais tenho em conta na nossa praça, alberga algum do mais empedernido talento nacional na feitura de canções populares. A isso se atira B Fachada, nome artístico de um rapaz urbano que se propõe repescar os valores subjacentes à suposta vitalidade e genuinidade musical de raiz tradicional portuguesa. Na noite de 9 de Janeiro, passada sexta-feira, apresentou-se ao vivo na mundana galeria Zé dos Bois (ZDB), ao Bairro Alto, em Lisboa. Antes, um vídeo documental dava conta dessa pretensa ligação (pontos de contacto) do artista a esse mundo em rarefacção acelerada e de como o inspirara na sua demanda criativa. Exposta a tese, chegou a hora de a colocar em prática. Letras bem tratadas, reflexo de alguém que sabe o peso exacto que elas têm ou podem ter. Uma viola braguesa, evidência literal dessa jornada ao interior do cancioneiro luso, acompanhava-o, apenas e só. Mais tarde, trocada por uma guitarra. Volta e meia, um arremedo de percussão. Uma voz longe de possuir uma tessitura alargada. A intencionalidade esteve lá, esforçada, numa espécie de assumido jogo de baixa-fidelidade, inspirado nos modelos norte-americanos de cantautores que preferem a economia de meios - e dos quais decalca toda a pose, com uma derivatória aqui e ali. Jogo arriscado, mais ainda quando se possui tão reduzido acervo temático. Às canções de B Fachada, pelo menos ao vivo, parece faltar vida, profundidade de campo, fazendo com que todas se assemelhem, mais ou menos. Se o instrumento vocal não tem ainda a capacidade para fazer sugerir o que as letras indicam, deveria-se, ao menos, ter olhado para opções como um baixo, um piano ou até a sons sintetizados. Viveram-se momentos de alguma poesia, mas a música terá sofrido algum percalço - pois não compareceu. Pode ser que em disco soe melhor.         

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Até que enfim!


O jornal britânico The Independent revela hoje um estudo realizado no Reino Unido, visando auscultar quais as invenções que os ingleses mais detestam e que tem no topo da lista o karaoke. São muitas as pessoas que se confessam incomodadas pela idiotia do aparelhinho de invenção japonesa e que torna muitos bares e estabelecimentos nocturnos em locais quase impraticáveis para quem apenas quer beber um copo ou não suporta uma hiperbólica falta de talento.

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Uma questão de perspectiva

A propósito do conflito israelo-palestiniano e da presente ofensiva judaica, que sugerem a aparente impossibilidade de entendimento, ocorre a ideia de que falta a compreensão da mais elementar das coisas: humanismo. O que é o "humanismo"? Mais do que uma angelical promessa, deveria ser a simples capacidade de se pôr no lugar do outro. Todos terão as suas razões, estribadas num histórico e nos tropeções que ele vai dando com o presente, as quais fazem parte de uma narrativa que se auto-alimenta. Mas, bastas vezes, tal não é suficiente como ferramenta para chegar ao conserto de posições. Deveria ser aí que o humanismo entrava em cena.   

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Questões jornalísticas a propósito de um conflito

Recebido há poucos minutos. Não concordo inteiramente com o conteúdo, mas, ainda assim, acho que adquire uma grande pertinência no contexto actual. Apesar de haver aqui uma clara tendência ideológica, alguns dos pontos expostos têm toda a razão de o ser. Onde está, afinal, a "isenção"?

Atenção ao Livro de Estilo!

 

Doze Regras de Redacção dos Grandes Media Internacionais quando a notícia é do Médio Oriente

 

1) No Médio Oriente são sempre os árabes que atacam primeiro e sempre Israel que se defende. É inconveniente falar em «represálias» quando se tratar do exército israelita.

 

2) Os árabes, palestinianos ou libaneses não têm o direito de matar civis. A isso chama-se «terrorismo».

 

3) Israel tem o direito de matar civis. A isso chama-se «legítima defesa».

 

4) Quando Israel mata civis em massa, as potências ocidentais pedem que seja mais comedido. A isso chama-se «reacção da comunidade internacional».

 

5) Os palestinianos e os libaneses não têm o direito de capturar soldados de Israel dentro de instalações militares com sentinelas e postos de combate. Isso chama-se «sequestro de pessoas indefesas».

 

6) Israel tem o direito de sequestrar a qualquer hora e em qualquer lugar quantos palestinianos e libaneses desejar. Actualmente são mais de 10 mil, 300 dos quais são crianças e mil são mulheres. Não é necessária qualquer prova de culpabilidade. Israel tem o direito de manter sequestrados presos indefinidamente, mesmo que sejam autoridades eleitas democraticamente pelos palestinianos. Isto chama-se «prisão de terroristas».

 

7) Quando se mencionam as palavras «Hezbollah» e «Hamas», é obrigatório a mesma frase conter a expressão «apoiado e financiado pela Síria e pelo Irão».

 

8) Quando se menciona «Israel», é proibida qualquer menção à expressão «apoiado e financiado pelos EUA». Isso poderia dar a impressão de que o conflito é desigual e que Israel não está em perigo de existência.

 

9) Quando se referir a Israel, são proibidas as expressões «territórios ocupados», «resoluções da ONU», «violações dos Direitos Humanos» ou «Convenção de Genebra».

 

10) Tanto os palestinianos como os libaneses são sempre «cobardes», que se escondem entre a população civil. Se eles dormem nas suas casas, com as suas famílias, a isso dá-se o nome de «dissimulação» e «cobardia». Israel tem o direito de aniquilar com bombas e mísseis os bairros onde eles dormem. A isso chama-se «acção cirúrgica de alta precisão».

 

11) Os israelitas falam melhor inglês, francês, espanhol e português que os árabes. Por isso eles e os que os apoiam devem ser mais entrevistados e ter mais oportunidades do que os árabes para explicar as presentes Regras de Redacção (de 1 a 10) ao grande público. A isso chama-se «neutralidade jornalística».

 

12) Todas as pessoas que não estão de acordo com as Regras de Redação acima expostas são «terroristas anti-semitas de alta periculosidade». 

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Feliz Ano Novo Palestina

Se provas fossem ainda necessárias de que de boas intenções está o planeta cheio, bastaria atentar ao argumentário usado pelas autoridades israelitas para justificarem a autêntica carnificina em curso na Faixa de Gaza. Estão a defender-se, dizem eles, e a fazer um favor aos habitantes daquela minúscula e sobrepovoada parcela de território ao erradicarem uma força extremista como o Hamas. Tão inteligente como tentar extrair um dente estragado dando marteladas num maxilar. 

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