sábado, 25 de fevereiro de 2006

O canto mudo


Mais um clássico exemplo de falta de cuidado. A típica colocação da vírgula entre o sujeito e o predicado. É um erro frequente, mas nem por isso mais desculpável. Pois, mais do que uma gralha, esta situação revela a impossibilidade de funcionamento de uma frase. Ainda para mais, num anúncio de uma instituição respeitável, como o São Luiz. Jacinta até é uma intérprete bastante razoável, não merecia um brinde destes.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

A disseminação do ridículo

Ainda a propósito da disseminação de certas formas grotescas de utilização da língua portuguesa, nas quais podemos incluir o uso desregrado do termo "milagre" por parte de jornalistas, será curioso recordar as palavras do opúsculo "O caso mental português", de Fernando Pessoa:

"O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas. Por natureza, forma o povo um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; e o pensamento é individual".

In "Fama", n.º 1, Lisboa, 30 de Novembro de 1932

Sem acrescentar uma vírgula.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

A maleabilidade do português

O jornal de distribuição gratuita Metro dá, hoje, manchete a um curto, como é seu tom, mas incisivo, trabalho sobre as consequências na língua portuguesa da generalização da escrita em telemóveis e na net. Titulando "Português de elástico" na primeira página, o diário conta que as "abreviaturas estão a tornar-se numa dor de cabeça para os professores de português, que também já dão com elas nos exames". Tudo porque, segundo o periódico, os mais novos começaram a fazer cair as vogais e a trocar o "que" por um simples "k" para pouparem tempo no programa de conversação online Messenger e nas mensagens de telemóvel. "É preciso dizer aos alunos que essas abreviaturas só são admissíveis em determinados contextos", diz, citado pelo Metro, Paulo Feytor Pinto, da Associação de Professores de Português. A ler.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

"Á" versus "à"

"Os bilhetes já estão á venda", dizia, ainda há pouco, no seu jornal nocturno, a SIC. A notícia era sobre o começo da venda de ingressos para o Rock in Rio Lisboa, e esta falta de cuidado estava escrita em rodapé.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Do divino ao cretino - parte II

Depois do que dissemos aqui, há poucos dias, sobre a relação algo dúbia entre a linguagem jornalística e os assuntos religiosos, o que se passou, este fim-de-semana, com a trasladação do corpo da dita "irmã Lúcia" estabeleceu novos parâmetros. Com cobertura até à náusea do assunto, os nossos jornalistas excederam-se, e reinventaram-se, em qualificativos superlativos sobre esta autêntica orgia beatífica. Vamos bem, vamos.

domingo, 19 de fevereiro de 2006

A coerência da Europa-América

As Publicações Europa-América (PEA) são um manancial para um blogue como este. Algumas das suas traduções oscilam entre a ignorância pura e a alucinação. Em coerência, a folha informativa mensal enviada aos «media» mantém o mesmo tom. Além de cada novo livro merecer uma caterva de adjectivos, o que é compreensível, certas passagens denotam a falta de cuidado que é marca PEA. Na folheca de Janeiro, apresenta-se o narrador do livro Sexo Suburbano como «um corrector da Bolsa». Ou coloca-se uma vírgula entre sujeito e predicado («Esta obra, é um mapa...»), ou se caracteriza Marraquexe pela sua «envolvência esótica», onde deambula uma «jovem pura, esplenderosa». E, sobre um palpitante livro de Super Posições, esta enigmática pérola: («Esta obra conta a incrível aventura da posição do missionário, os tímidos avanços do fellatio, as cambalhotas da sodomia, até aos desvios da clonagem»). Clonagem!?

sábado, 18 de fevereiro de 2006

Das más traduções

A Cinemateca Portuguesa leva a efeito, por estes dias, uma mostra integral da obra do realizador canadiano David Cronenberg (na foto). Esta semana, um dos filmes que por lá passou foi The Dead Zone (1983), com o excelente Christopher Walken. O título em português? "Zona de Perigo". Um verdadeiro disparate. Como diz João Bénard da Costa, nas clássicas folhas da Cinemateca: "Mas não há neste filme zonas de perigo ou mesmo zonas de morte. Há uma zona morta (Dead Zone) e é dessa zona morte que vem a dimensão alucinante desta obra". Nem mais. Serve isto como mote para chamar, mais uma vez, a atenção para a persistência nas deficientes traduções no mercado cinematográfico português. Seja de títulos ou mesmo da própria obra. Ainda temos em cartaz no circuito comercial um exemplo dessa situação. O filme do austríaco Michaele Haneke "Caché" recebeu o título de "Nada a esconder" entre nós, quando significa, no francês original, precisamente o contrário: "escondido". Definitivamente, o cinema merecia melhor.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Do divino ao cretino

Os tempos andam de feição para as seitas e as crendices. Entrados no século XXI , deparamo-nos ainda com um recrudescimento do fervor religioso, do qual a polémica em torno das caricaturas de Maomé é prova dolorosa. Mau sinal e, sobretudo, mau presságio para os tempos vindouros. Ou, se calhar, prova da nossa ingenuidade, ao acreditarmos que a canga religiosa deixará, lenta mas irrevogavelmente, de fazer parte da nossa existência. Ao jornalismo, pelo menos, não se esperaria propensão, e queda, para o divino. Ao Ocidental , pelo menos, dizemos. Tal não sucede, porém. Volta e meia, sem que se perceba muito bem porquê, lá vem o famoso "milagre". Como, ainda há poucas horas sucedeu no Jornal da Tarde da RTP 1. Numa peça sobre um acidente numa passagem de nível, no Fundão, no qual um automobilista ficou gravemente ferido, disse-se que o mesmo "só não morreu, de acordo com fonte dos bombeiros, devido a milagre" (sic) ....Será que isto interessa? Se a referida fonte o tiver dito mesmo, para quê reproduzi-lo? Qual a relevância para a notícia? Ao jornalista cabe o papel de informar. O pior é que há muitos a fazer considerações, sem sequer citar ninguém, a atribuir isto ou aquilo a um "milagre", ou "quase". Atenção à semântica das palavras.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Já não há paciência

A forma espontânea, e continuada, como as pessoas reproduzem as macaquices que vão dando na televisão é deveras surpreendente. E reveladora do estado cultural dos "tugas", sempre mais interessados em concursos televisivos da treta, fofoquices, Euromilhões e em assuntos laterais do futebol. Chega a pasmar a facilidade com que, volta e meia, uma qualquer alarvidade da TV é repetida até à plena irritação. Umas das últimas, um tal de "é que é já a seguir!", encontrou nos portugueses campo livre para se disseminar, mais rapidamente que chama em monte de feno, numa tarde de Verão. Era vê-los, desde o empregado de balcão, até ao chunga do tunning, passando pela empregada das finanças, todos contentes da vida, a largar um sorriso, após lançar o tal "é...". Como dizia, há uns meses, nas páginas de uma revista, um colega jornalista, um povo é tão boçal quanto a frequência com que repete a tiradas televisivas. Nem mais. O problema é que há sempre novas. Bolas! Já não há paciência.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Sempre a aprender

Quando julgamos que já sabemos bastante do léxico da nossa língua, surgem sempre expressões para desafiar essa convicção. São palavras que nunca lêramos ou ouvíramos. É o caso desta "Ayurvédica", prática medicinal alternativa com raízes em certas regiões da Índia e do Sri Lanka, que se pode colocar no campo dos naturalismos e quejandos. Vimo-la , num destes dias, e até a tínhamos fotografado. Mas, mais uma vez, problemas técnicos impedem-nos de reproduzi-la. Uma falta de sorte.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

O que será um gifante?

Ora bem. Depois de um irritante, e estranho, erro informático, voltamos aqui a repor a verdade dos acontecimentos, lacerada com o desaparecimento do post que tinha o mesmo título que este. E de que tratava ele? Bem, continha um link para uma notícia do sítio do jornal desportivo A Bola, na qual estava um bizarro erro. Dando conta do jogo dos quartos-de-final da CAN - Taça Africana das Nações, a realizar no Egipto, entre os Camarões e a Costa do Marfim, A Bola on-line titulava assim: "Costa do Marfim-Camarões: encontro de gifantes". Nesse post dizíamos que não é muito compreensível um órgão de comunicação social, ainda para mais com o prestígio de A Bola, fazer uma coisa destas. O que será um gifante? Estariam a pensar em elefantes gigantes...?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

A fonética, essa marota

Exemplos de erros, ou gralhas, nos textos inseridos em rodapé dos jornais televisivos são abundantes. De tal facto já aqui se deu conta algumas vezes. Ainda ontem, o Jornal da Tarde da RTP1 - o que por aqui mais se vê naquele horário, em virtude das qualidades jornalísticas que, ainda assim, ostenta - brindava-nos com outro exemplo. Só que este com uma ironia própria de que são portadores todos os erros sintácticos que redundam em desvios semânticos. Ora, então não é que falava um senhor vereador da Câmara Municipal do Porto, de nome Lino Joaquim Ferreira, que apareceu identificado como "vereador do Urbanismo Imobilidade"? É óbvio que o senhor ocupa o pelouro de Urbanismo e Mobilidade, e também todos percebemos o que se terá passado, com a fonética a atraiçoar quem inseria os caracteres. Contudo, não deixa de provocar um sorriso tal erro, que foi capaz de transformar "mobilidade" em "imobilidade", o antónimo. Não haverá quem edite o que se põe no ecrã?