quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ver-se grego II

É claro que as atrás proferidas considerações estão longe de impedir o reconhecimento do imenso sofrimento que as medidas de austeridade estão a causar ao povo grego. Muita gente foi e será apanhada pela voragem da crise e das chamas resultantes da gasolina que sobre ela tem sido derramada. Lá, como cá, serão imensos os que, sem terem percebido porque foram convocados a pagar dolorosamente os dislates económico-financeiros cometidos por terceiros, se sentem traídos por um sistema em que acreditavam. E um dos problemas, lá como cá, reside precisamente nessa crença. É que o aparato político, formal e institucional que dá osso a uma democracia não pode ser deixado a funcionar em piloto automático, enquanto nos entretemos a consumir a crédito. Sem vigilância, sem questionar os que gerem a coisa pública - mas sempre a comprar mais e mais. Foi isso que fizeram a maior parte dos povos da Europa. Sobretudo os da sua extremidade meridional, que, sem terem a capacidade de produzir a riqueza necessária para pelo menos pagarem as despesas que iam contraindo, não se coibiram de pedirem emprestado. Como se não houvesse amanhã. Essa sensação de futuro arredado é precisamente a que muitos cidadãos hoje sentem. Os gregos podem parecer-nos meio desmiolados - e, em certa medida, são-no -, mas também os portugueses, apesar de aparentemente mais cordatos, embarcaram nessa loucura. No fundo, estamos todos a vermo-nos gregos. E uma parte substancial da culpa, embora não toda, é nossa.

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ver-se grego

O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, terá dito hoje, ou ontem, a fazer fé no reportado por alguns jornais, qualquer coisa como "os alemães querem que nós falhemos ou então são estúpidos". Para quem tem a corda ao pescoço, e está dependente precisamente dos humores daqueles que agora vitupera, não perece ser a atitude mais inteligente. Ou então, pensarão alguns, é apenas o preciso reflexo da impotência ante a intransigência teutónica. Estas declarações surgem precisamente no dia em que se ficou a saber que a atleta Paraskevi Papahristou já não vai representar a Grécia mos Jogos Olímpicos de Londres, a dois dias  começarem, por comentários racistas sobre os africanos na sua conta do Tweeter. Suspeita-se de ligações da desportista helénica ao partido de extrema-direita neonazi Aurora Dourada, que tem ganho substancial popularidade e votos, nos últimos tempos, na sequência do agravar da enorme crise económica e social que afecta aquele país mediterrânico. Quem souber um pouco de história e faça a ligação entre os elementos rapidamente perceberá que o cenário montado no chamado "berço da civilização Ocidental" é pouco menos que assustador. Como muito bem têm referido as vozes mais acutilantes, a sociedade grega resulta de um longo, penoso e violento processo histórico, que mais tem de rosário de desgraças do que de construção. Situada na extremidade oriental do continente, a Grécia actual - e dos últimos séculos - pouco deve ao estatuto histórico e intelectual que os seus antepassados nos legaram. Ou seja, de ocidental retém o superficial e apenas alguns esparsos sintomas de comportamento e socialização, sobretudo pelo consumo e pelos modos. Mas é só aparência. Querer fazer-nos crer que "os gregos são como nós" e que "coitados, tal como a gente, estão a ser vítimas de um mal comum" aponta para a maior das patranhas. Temos muitos defeitos, como muitos povos, mas, por favor, não nos metam no mesmo barco.

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terça-feira, 10 de julho de 2012

Calem-se!

Ainda haverá espaço mental para mais ruído e assédio publicitário?

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