terça-feira, 31 de janeiro de 2006

No país dos Inhos

Por que raio será que, em qualquer café ou pastelaria a que vamos, em resposta a uma solicitação nossa, há sempre alguém disposto a perguntar "é um cafezinho?" ou a dizer "ora aqui está o seu pregozinho" ?. Miguel Esteves Cardoso já escalpelizou sobre o assunto, há quase duas décadas, com inigualável mestria. Tem tudo a ver com os nossos acabrunhamentos ancestrais, ao que parece. É uma explicação. Mas que irrita, lá isso irrita.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

O 24 ou a discordância de número

Apontar os erros dos outros é sempre ingrato. O que não invalida a necessidade de o fazer, ainda para mais num lugar como este, dado a reparos e apontares de dedo denunciadores para com o uso inadequado da língua portuguesa. E se errar é próprio da condição humana - também nós, pasme-se, já aqui cometemos atropelos no uso da nossa língua, se bem que apenas materializados em gralhas -, corrigir também o é. Há descuidos maiores e menores. Uns mais relevantes que outros, sendo da primeira categoria o desleixo patenteado na primeira página da edição de hoje do quotidiano 24 Horas. Falando da neve, como não poderia deixar de ser, dizia, em ante-título, que os "Próximos anos vai ser mais frios". Uma natural discordância de número, que não fica nada bem na manchete de um jornal. Qualquer que ele seja. Mesmo que, no caso em apreço, tenha mais utilidade para com ele fazer um cone recipinte de castanhas quentinhas do que para nele encontrar um artigo de jeito. Uma enorme falta de cuidado.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

As estações, como elas são

Passava, há minutos, a RTP 1, no seu Jornal da Tarde, uma peça sobre a nova temporada ciclística que se avizinha, mais concretamente sobre a equipa Discovery. Nela, Armstrong, o campeoníssimo americano que agora se retira, gabava as qualidades dos seus ex-colegas, em especial as do português José Azevedo. Dizia ainda que era uma pena as luzes mediáticas estarem apenas concentradas sobre o Tour, quando existem tantas outras provas importantes, algumas delas "na primavera e no outono", legendava a televisão pública. Tudo muito bem, excepto que as estações do ano devem escrever-se sempre em caixa alta, ou em capitulares se preferirem. Trata-se de Primavera e Outono e não primavera e outono. Não é um erro muito grave, mas é um erro. Seria como escrever o nome de alguém em minúsculas.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Voltar a aterrar

Finda uma curta deslocação a terras estrangeiras em gozo de merecidíssimas férias de Inverno, pela totalidade da equipa deste blogue, eis-nos, de novo, no activo. Chegados ao Aeroporto Internacional Francisco Sá Carneiro, no Porto, o que nos fez sobressaltar da modorra sonolenta foi algo bem mais prosaico e menos pernicioso que a vitória nas presidenciais, realizadas na véspera, do acólito daquele histórico líder laranja. "Vôos internos" dizia uma placa logo à entrada do nosso terminal. Bom, se tal é válido para o Brasil, não o será em Portugal, apesar de estarmos perante o mesmo idioma, o português. Por cá, escreve-se "voos". A percepção do significado não é minimamente beliscada, o que também não serve como argumento, pois muitas são as situações em que, resultando clara a intenção dos autores de determinada mensagem, os elementos constituintes da mesma se encontram fora de regras. O que até pode ser bom como cartilha de princípios artísticos, não é, porém, compreensível para as indicações ao utilizador de um aeroporto internacional. Uma falta de cuidado.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Toca o sino


Por vezes, até as idas a uma casa-de-banho pública têm o seu quê de instrutivo. Imagine-se que numa parede por cima do urinol, no caso da sala masculina, está escrito "Cavaco é um sínico". Pois foi isso com que um de nós se deparou, hoje, num espaço comercial do centro de Lisboa. Seria acto revelador de algum cinismo considerar que o autor dessas palavras não andará muito longe da verdade, mas a forma como as mesmas estão escritas impede-nos de o fazer. Há erros e erros.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Novas

Sabemos que é um perfeito lugar-comum, mas não podemos deixar de o proclamar, com a força que os lugares comuns têm: Ano Novo, Vida Nova. Aproveitando o balanço eleitoral, cuja campanha para as presidenciais deu hoje o tiro de partida, prometemos um outro ritmo para este blogue. Matéria para trabalhar não falta. Será um 2006 cheio de denúncias, análises e conjecturações sobre os erros, os deslizes e os desvios de utilização correcta da língua. Mais do que isso, reforça-se aqui o espírito inicial do faltadecuidado: tentar-se-á reflectir sobre a os vícios de forma e enquadramento na quotidiana utilização do português pelos portugueses. Mais do que apontar, queremos levantar o debate. Para que, um dia, nem todas as conversas começem por "É assim...".