quarta-feira, 29 de março de 2006

Idiotia em toda a linha

Discriminação s.f. Acção de discriminar; separação; distinção; discernimento. // Discriminação racial, tratamento diverso dado a pessoas de raças diferentes; segregação.

Chega a ser supreendente a forma como determinados hábitos, preconceituosos, prevalecem na mente das pessoas, ainda para mais quando se trata de jornalistas - supostamente mais bem informados e formados. Arriscamos mesmo dizer: se quiserem ter os preconceitos, que os tenham, não os levem é para as peças jornalísticas em que estão a trabalhar. Os anos passam, mas há coisas que prevalecem, mais estúpidas que o previsível.
O Jornal da Tarde da RTP 1, essa luminária informativa, apresentava, há pouco, dados estatísticos sobre o aumento do número de assaltos e criminalidade violenta. Enquanto os debitava, o indivíduo-jornalista via o seu texto acompanhado por imagens do bairro da Quinta da Fonte, conhecido núcleo urbano da freguesia da Apelação, concelho de Loures. Conhecido pelas piores razões, entenda-se, as que dão mau nome a uma errónea concepção de planeamento urbano e às suas políticas de reinserção social de populações marginais e marginalizadas.
Aos planos dos prédios amarelos cheios de graffiti e das suas gentes em deambulação pelas ruas sobrepuseram-se gráficos e gráficos. A evidência estatística, sempre a evidência estatística. Depois, imagens algo confusas de uma desordem pública algures num outro bairro de subúrbio, à noite, e com a luz azul dos carros da PSP a marcar a zona. O pior, porém, viera antes. Logo a abrir a "peça", quando ainda no primeiro parágrafo do texto, já ao telespectador se ofereciam imagens de crianças africanas a brincar num parque infantil, com a maior candura possível. Por quê crianças num parque infantil? Por quê estas, num país em que a esmagadora maioria da população NÃO é africana? Porquê associar essas imagens ao resto da peça? Por quê estigmatizar ainda mais a população daquele bairro?
A isto se chama a mais evidente demagogia, que quando se apodera dos meios de difusão noticiosa adquire contornos perigosos. Estamos a falar de televisão, e nela a imagem tem um papel determinante, que pode até ofuscar o que se está a verbalizar. Quando se opta por mostrar determinadas imagens, de um determinada forma, e não outras, faz-se uma escolha. Num tempo de enganos semióticos, isto faz a diferença. Desde os primeiros tempos do cinema, sabemo-lo bem, que a montagem é um acto político. Mais um claro caso de uso criminoso da língua portuguesa e do que a ela está associado. Neste caso, a imagem.

segunda-feira, 27 de março de 2006

O último a rir


Humor s.m. [...] Disposição de ânimo de alguma pessoa para alguma coisa; veia cómica, ironia delicada e alegre, que se disfarça sob uma aparência de coisa séria.

Há omissões que dizem mais sobre alguns comportamentos ou atitudes do que determinadas afirmações. Foi com algum pasmo que constatámos a ausência do nome de Mário Viegas no rol de humoristas fundamentais em Portugal, numa peça do Jornal da Tarde da RTP 1, sexta-feira passada. Nesse dia, estreou a participação do colectivo Gato Fedorento no canal público de televisão. Os responsáveis editoriais entenderam, e bem, assinalar o facto com um rememorar dos "nomes fundamentais" da arte de fazer rir no nosso país. Falou-se de Vasco Santana, António Silva, Solnado, Herman, da stand-up. De Mário Viegas, nem um sopro. Um humor inteligente não é coisa fácil, como nada o é, qualquer que seja a coisa que anteceda tal adjectivo. Viegas mostrou cabalmente o seu talento na RTP, televisão pública, casa que agora o esquece. A memória já teve melhores dias.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Alpha Fox base calling home!

Eh pá! Juramos que não temos nada contra o jornal diário Metro. Antes pelo contrário, pensamos que até é bem feito, tendo-nos servido já, inclusivamente, de fonte informativa para aqui escrevermos. Mas este exemplo mostra bem como, por vezes, são feitas as coisas por estas bandas de lusa pátria. O que aconteceu? Comprou-se uma infografia para ilustrar um artigo e, azar, esquece-se de traduzi-la integralmente. Dá nisto. Half portuguese, meio inglês. "Antena: Transmite dados para a Terra and serves as comms relay for future Mars missions" . ...Rrhhjd..thfdf..rftr..Alpha Fox base calling Earth!

quinta-feira, 23 de março de 2006

A pronto pagamento

Ora cá está uma que deixa que pensar. Vinha numa maqueta publicitária a uma loja de electrónica online, do jornal Metro, há uns dias.
PS: Vê lá se adivinhas onde está o erro "boloposte". Vá lá, não é difícil. Concentra-te um pouco.
Não vale apontar como erro a desfocagem da foto.

quarta-feira, 22 de março de 2006

Contas de cabeça

As contas estão longe de ser o ponto forte dos portugueses. Vejam-se as miseráveis prestações dos nossos alunos a Matemática e nas disciplinas com ela relacionadas, como a Física e a Química, e as embaraçantes classificações nos rankings internacionais. Até o engenheiro Guterres, sendo engenheiro, e excelente aluno do Técnico, deu um contributo para esta imagem. Quando primeiro-ministro, foi protagonista daquela rábula que culminou com o "...é fazer as contas". Ontem, no seu estilo bem mais assertivo, Paulo Portas andou lá perto. No programa Estado da Arte, que apresenta quinzenalmente com Clara de Sousa, na SIC, ao falar das convulsões recentes por terras gaulesas, disse: "Clara, sabe quantas vezes as pessoas saíram à rua, em França, para travar processos de reformas, nas últimas duas décadas?". Pergunta feita, mão direita estendida com os cinco dedos em evidência. Resposta veemente de Portas: "Nove!" Um bocado confuso...

domingo, 12 de março de 2006

A definição de discrição

Discrição s. f. Qualidade do que é discreto. / Circunspecção, prudência, tino, discernimento; sensatez. / Recato, modéstia. / Reserva, segredo.

Num acanhado, e anónimo, café da zona central de Lisboa, esta semana. Uma mulher, na casa dos quarenta, enquanto come um salgado, falando ao telemóvel:

...
- E então, aquela coisa lá em Sesimbra?
...
- Aquilo da Câmara?
...
- Ah, pois! Pediram-lhe alvará, não foi? Tem que tratar dessas coisas todas.
...
- Pois, que chatice...
...
- Olhe, mas se precisar de alguma coisa aqui de Lisboa, da Câmara, da Câmara de Lisboa, diga-me. Tenha lá uns contactos, que resolvem essas situações.
...

Conseguem imaginar coisa mais portuguesa do que esta?
Nem me ocorreu consultar a definição de corrupção.

Olá, novamente

Finalmente, com computador! Depois de um de nós ter estado quase duas semanas impossibilitado de usar o seu PC, devido a avaria na "fonte de alimentação" - disse o tipo da casa onde o deixei a arranjar -, cá estamos de novo. Assim que possível, voltaremos a bombar aí uns posts.