quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Pirataria

O que estão a tentar fazer ao sistema nacional de Segurança Social é vergonhoso. Como sempre, a Direita portuguesa, dando ênfase à sua tradicional mesquinhez, propõe uma solução que mais não é do que o simples desmantelar de uma das maiores conquistas - senão mesmo a maior - da Democracia, ou se quiserem do 25 de Abril. Pretende-se inculcar na opinião pública a ideia de que, em nome da "justiça", é melhor cada um começar a amealhar em fundos privados as suas poupanças, e assim garantir "um futuro descansado", em vez de contribuir para o bolo global da previdência. Pensamento perigoso, instigador de clivagens e de ódios. Querem transformar isto num Brasil dos pequeninos?

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Às páginas tantas

Pelintrice s.f. Qualidade do que é pelintra / Acto de mesquinharia ou sovinice.

De acordo com a edição de hoje do PÚBLICO, o concelho da Amadora, um dos mais populosos do País, não tem nenhuma livraria. A última, da rede Bertrand, a funcionar no centro comercial Continente, encerrou recentemente. A câmara municipal mostra-se preocupada e tenta, de alguma forma, fazer com que tal cenário se altere. Mas lembra, e bem, o vereador com o pelouro da Cultura que a autarquia não pode apoiar entidades privadas. Quando muito, pode sugerir a ida dos munícipes às bibliotecas de que dispõe e nas quais investiu. Em Portugal, o conhecimento e tudo o que se assemelhe a actividade artística e cultural nunca foi coisa rentável. Pena que o futebol, também largamente deficitário, apesar do histrionismo em seu redor, não beneficie de igual tratamento.

Excessos

Como se não houvesse nada de mais importante no mundo, os meios de comunicação social portugueses dão um destaque desmesurado à recandidatura do presidente do Benfica, o figurão Luís Filipe Vieira. A TSF abriu mesmo o seu noticiário da meia-noite com tal informação, reproduzindo, como todos os outros órgãos, as declarações do dirigente desportivo (?) na entrevista que deu a Judite de Sousa, no canal 1 da RTP. O vazio de ideias e a "eucaliptização" mental dos portugueses prosseguem a ritmo vigoroso. A estratégia consiste em repetir o que se acha que vai interessar ao maior número de pessoas, em detrimento de assuntos não tão digeríveis, digamos, como a política, questões sociais ou outros que possam abalar a ideologia da boa disposição e da trivialidade. À força de tanta relativização, os indivíduos vão-se habituando, deixando andar, dando tudo por adquirido, por normal. Está nas cartilhas da manipulação e da propaganda. Quando a irrelevância passa a notícia de destaque, acaba por se banalizar, ao ponto de ser encarada como algo aceitável, que faz parte do sistema de circulação e troca de ideias. Depois, será tarde de mais para questionar o relevo dado a essas coisas. O boçal infiltra-se na engrenagem como areia fina. Não acreditam? Pensem bem, se, há uns anos, seria admissível o destaque e o tratamento reverencial dados a uma figura sinistra como a do presidente benfiquista. Pois é, depois de admitirmos Valentins Loureiros e os dislates crescentes de Alberto João Jardim, Vieira até parece um homem sério.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Folhas de Outono

O Outono está a chegar e com ele um novo ciclo. É sempre assim, nesta permanente necessidade de recomeçarmos ou de, à falta de verdadeiras medidas, inventarmos portas que o sugiram. Daqui a pouco mais de três meses, com a entrada noutro ano civil, mais um simulacro de ruptura surgirá. Gostamos de pensar momentos assim como se de novas oportunidade se tratassem. Algo justo para um ser, afinal, tão dado à errância como o Homem. A disfunção como princípio de ruptura e de evolução, quando intelectualizada, mas também de insensatez, quando apenas aculturada e sistematizada. Uma nova temporada de enganos está aí. E, com ela, a oportunidade de dissecarmos os aspectos mesquinhos do comportamento, sejam eles corporizados por falhas sintáticas presentes em atitudes ou pela semântica do que por aí se vai dizendo.