terça-feira, 25 de novembro de 2008

Big business in a big world (o lamaçal)


Caso existissem dúvidas, os últimos desenvolvimentos em torno do "escândalo BPN" adensam ainda mais a persistente sensação de que o "sistema" é gerido de forma tendente a, no mínimo, conduzir a um processo de entropia. Ou seja, leva à sua própria destruição. Do sistema (nós), claro. Porque estes senhores sabem sempre tratar-se bem. Em simultâneo, o Banco Privado Português dá sinais de que dificilmente conseguirá sobreviver sem ser ajudado. Clama agora João Rendeiro, presidente do BPP, pelo socorro de nadador-salvador Estado. Que se saiba, não terá tamanha sorte. Mesmo tendo como atenuante o facto de, até ver, se lhe desconhecerem malabarismos semelhantes aos protagonizados por Oliveira e Costa, não deixa de causar uma sensação de estranheza ver os banqueiros a virarem-se para o Estado quando a coisa aperta. Não são eles quem o zurze em permanência, queixando-se da falta de "resultados" e de "eficácia"?  

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A geometria das emoções


Há já algumas semanas em cartaz, o filme "Do outro lado", do realizador germano-turco Fatih Akim, impressiona pela forma como conjuga rigor com emoção. Estória de colisões e tangentes, tanto afectivas como culturais, o drama montado nunca cede ao lugar-comum e à facilidade na resolução das situações nascidas da simples circulação dos personagens neste mundo complexo que é o nosso. Sem nunca arriscar um milímetro de verosimilhança, a película cumpre um notável programa de rectidão narrativa e, ainda assim, consegue transmitir a quem a vê uma reconfortante sensação de aconchego sentimental. E porquê? Porque aquelas são pessoas como nós. Fazê-lo entre dois palcos (Alemanha e Turquia) cuja relação é emblemática do que poderíamos identificar como exemplo da "guerra de civilizações" entre Ocidente e Oriente, não temendo explorar essa temática, e ainda assim evitando o perigo do "filme ecuménico" é, por si só, uma proeza.  

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A importância das palavras

Um líder político tem de perceber a importância das palavras, ou por elas morrerá. É assim em democracia. Noutros regimes de excepção, mesmo que apenas vigentes por um semestre, sucede o inverso: as palavras são utilizadas pelo simulacro de político para se dar importância a si mesmo e matar a desconfiança que dele se possa ter. O que, manifestamente, alguns por cá ainda parecem ter dificuldade em assimilar.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Branqueamento em curso

Não surpreende. Já se esperava que a as reacções à gaffe de Ferreira Leite dividissem opiniões, na mesma exacta medida em que o funcionamento da coisa democrática causa cisões. Agora, o que espanta é a tentativa de fazer passar a ideia de que afinal tudo não passou de uma ironia, uma brincadeirazinha de retórica. Há quem venha sugerir que se está a empolar o caso para encobrir o mau governo de Sócrates, sem sequer pensar que se está a falar da mais imediata candidata a substituí-lo. Ouviram-se as palavras da líder do PSD e não há segundas leituras possíveis. O que ela disse é demasiado grave para ser encoberto, para "passar uma esponja sobre o assunto". Como aqui se disse ontem, a frustração económica vai dar, a partir de agora, rédea solta a todos os "desiludidos da democracia". "Dar voz ao povo", como se ouve agora pedir no Fórum da TSF.  

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

O verdadeiro motivo de Manuela Ferreira Leite


Depois de se ter saído com uma estranha afirmação, na semana passada, em que dizia que não deveriam ser os jornalistas a escolher o que publicam - o que para muita gente foi apenas a confirmação da real tendência censória e reaccionária da senhora -, Manuela Ferreira Leite deixa cair, por fim, a máscara. Há poucas horas, confessou que não se importaria de prescindir, por uns tempos, do regime democrático para poder "arrumar a casa". Onde já ouvimos frases como esta? Não é assim que pensam todos os defensores dos regimes totalitários?

E pensar que era nela que recaíam esperanças de credibilização do PSD, depois da passagem de Luís Filipe Menezes pelo lugar de líder.Inclusivamente, nesta página, disso se deu conta. Pura ingenuidade, reconheço.

É melhor ler, retirado agora mesmo do PÚBLICO on-line:
Líder do PSD comenta reformas do Governo
Ferreira Leite pergunta se "não seria bom haver seis meses sem democracia" para pôr "tudo na ordem" 
18.11.2008 - 17h20 Lusa
A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, perguntou hoje se "não seria bom haver seis meses sem democracia" para "pôr tudo na ordem", num comentário às reformas que o actual Governo tem realizado em áreas como a justiça, educação ou saúde.

No final de um almoço promovido pela Câmara de Comércio Luso-Americana, Ferreira Leite elegeu a reforma do sistema de justiça "como primeira prioridade" para ajudar as empresas portuguesas. Questionada sobre o que faria para melhorar o sistema de justiça, a líder social-democrata demarcou-se da atitude do primeiro-ministro, José Sócrates, que "na tomada de posse anunciou como grande medida reduzir as férias do juiz".

Defendendo a ideia de que não se deve tentar fazer reformas contra as classes profissionais, Ferreira Leite declarou: "Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia...". "Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se", observou em seguida a presidente do PSD, acrescentando: "E até não sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia". 

"Agora em democracia efectivamente não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar - porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos", completou Manuela Ferreira Leite. 
(...)

Perante isto, que dizer? A situação económica do país está a piorar a olhos vistos e, não tenhamos ilusiões, sentimentos de simpatia por ideias deste calibre continuarão a instalar-se nas mentes da populaça. Não nos esqueçamos de onde viemos, nós os portugueses. Repete-se o que aqui sempre se disse: nunca fomos muito amigos dos ares da Liberdade. Estamos a falar, neste caso, da líder do maior partido da oposição, da hipotética alternativa ao lugar que, pelas regras normais da democracia, um dia, José Sócrates deixará.

É Portugal....
 

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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Importa-se de repetir?

Só visto. Mesmo assim, difícil de acreditar. À porta do DIAP de Lisboa, elementos da claque No Name Boys, do Benfica, esperam os seus amigos detidos que se preparam para a ser ouvidos por indícios de crimes diversos. Dando livre rédea aos seus naturais instintos primatas agridem os jornalistas, perante a passividade dos polícias. Nas imagens da RTP -  um dos seu operadores de câmara foi alvo da fúria - vê-se um agente a afastar um matulão trogolodita e, seguidamente, a apontar para o dito operador de imagem e a dizer-lhe "o senhor, depois, vai indentificar-se!". E isto passa-se com a maior das calmas, sem que nenhum responsável da PSP tenha vindo a terreiro explicar tal procedimento. A liberdade de expressão nunca foi uma coisa muito popular por estas terras.

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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Custo de vida (carta aos bancos)

Esta anda a circular por aí e, covenhamos, tem piada. Bastante.

Dear Sir, 
In view of current developments in the banking market, if one of my cheques is returned marked "insufficient funds", does that refer to you or to me?

Yours faithfully

Joe, the plumber

Duas vozes inteligentes, cheias de amor



A quente, regozijamo-nos com o magnífico concerto que Joan As a Police Woman deu, ontem à noite, na fria, mas de majestática beleza, sala do Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Na sua insegurança inicial, a que se juntaram os problemas de som, começou por periclitantemente avançar pelos sulcos da intimidade. Prenha de convicções musicais embebidas no mais puro classicismo de construção de canções, raspado na fundura dos anos 70, soltou amarras para um espectáculo de uma entrega sem condições e exposição dos interstícios da alma. A voz, portadora da tão esquisita quão familiar particularidade de verter um choro envolto em veludo, casou bem com as teclas, guitarra, baixo e bateria, usados com toda a discrição.
A uma semana de distância, alegramo-nos pelos ecos reconfortantes de um belo e contido concerto de Patricia Barber, no Teatro Camões. Senhora de um pianismo jazz mais que seguro, ela representa, na verdade, o que de mais estimulante tem hoje para dar a fórmula voz-feminina-ao-piano. Um estauto alcançado pela forma ousada como procura sempre as soluções menos óbvias na tão nobre arte da canção canónica. A isso muito ajuda o estranho timbre que emana das cordas vocais, algo entre o sussuro e o estado de vertigem afectada. Ao contrário de Joan, Patricia não tem aquilo a que vulgarmente se considera "uma boa voz", mergulhando antes no campo da incertitude harmónica. Não sendo oficialmente pop, acaba por dominar esse muito idioma melhor que outros supostamente mais preparados para o fazer, jogando descomplexadamente com a guitarra rock que tão bem a acompanha - especialmente no álbum "Mythologies".
Patricia Barber e Joan As a Police Woman têm em comum, para além da acessibilidade das suas canções, a peculair característica de nos levarem ao mais recatado e íntimo estado na nossa existência sem terem o mau-gosto de nos chantagearem emocionalmente. Abençoadas sejam.

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sim, nós podemos!

Parabéns Barack Obama, por nos dares mais uma oportunidade de acreditar que as pessoas que conciliam inteligência com o dom da vontade e da justiça podem ter hipóteses de fazer este planeta um lugar melhor.

À espera da mudança

Começa a contagem da longa noite eleitoral norte-americana, com o mundo de olhos postos no que lá se passa. Obama, estamos todos à tua espera.